Existe investimento que dá mais retorno que Bitcoin, com ZERO de risco?

Sim, investimento na educação básica.

Quem avalia o crescimento econômico chinês se espanta como conseguiram evoluir tão rapidamente e gerar tanta riqueza em tão curto espaço de tempo. O mesmo vale para outras economias menores como Japão e Coreia do Sul, mas não menos pujantes e que não por acaso estão entre os países que hoje detém os melhores indicadores de desempenho na educação básica no mundo.

No Brasil podemos observar que o sistema educacional apesar de produzir baixo desempenho é complexo e confiável em termos de estrutura,  possuindo uma riquíssima  base de dados, que contempla: mapeamento das escolas, alunos e familias, professores, diretores, enfim, temos uma base excelente de informações que nos dá inúmeras possibilidades de análises, mas não sinaliza de forma clara o que deve ser feito para melhorarmos o desempenho de nossos alunos nos testes de proficiência e na absorção de conhecimento, desenvolvimento de raciocínio crítico e lógico e desenvolvimento de ferramentas para que possibilite maior autonomia em suas vidas e contribuam para o crescimento de nosso país, como consequência.

Atualmente a métrica deste conhecimento se dá através de alguns exames, quer  sejam internos ou externos, e que possibilitam avaliar resultados em relação a outras escolas, municípios, estados e países, sendo os mais relevantes o  IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e o PISA (Programme for International Student Assessment) –  é pela avaliação destes exames que podemos verificar a qualidade de nosso sistema educacional e como estamos, quando comparamos os resultados com os demais jovens de países da OCDE, e estamos mal.

Na comparação interna entre os sistemas público e privado, vemos a diferença entre os resultados dos exames, sendo a educação privada mais bem avaliada. Ainda podemos observar como somos pouco exigentes com as metas definidas para melhoria de desempenho do sistema público, são metas fracas e pouco desafiadoras.

No âmbito internacional os resultados do Pisa 2018 mostram que os estudantes brasileiros obtiveram uma pontuação abaixo da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Leitura, Matemática e Ciências. Apenas 2% dos estudantes alcançaram os níveis mais altos de proficiência (Nível 5 ou 6) em pelo menos um domínio (média da OCDE: 16%), e 43% dos estudantes obtiveram uma pontuação abaixo do nível mínimo de proficiência (Nível 2) em todos os três domínios (média da OCDE: 13%).

No Brasil, o desempenho médio em Matemática evoluiu entre 2003 e 2018, no entanto, em sua maioria, essa evolução se concentrou nos ciclos iniciais do Pisa. Depois de 2009, o desempenho médio nesse domínio, assim como em Leitura e Ciências, não mudou significativamente.

O nível socioeconômico foi um forte preditor do desempenho em Leitura, Matemática e Ciências no Brasil.

Em Leitura, o desempenho de estudantes em vantagem socioeconômica superou em 97 pontos (média da OCDE: 89 pontos) o desempenho de estudantes em desvantagem socioeconômica. No Pisa 2009, a lacuna no desempenho em Leitura, relacionada ao nível socioeconômico, foi de 84 pontos no Brasil (média da OCDE: 87 pontos).

Nota: São apresentados somente países e economias com dados disponíveis

Fonte: OCDE, base de dados PISA 2018, tabelas I.1 e I.10.1

Estudantes no Brasil obtiveram uma pontuação abaixo da média da OCDE em Leitura, Matemática e Ciências.

O que os estudantes sabem e conseguem fazer no domínio Leitura

No Brasil, 50% dos estudantes atingiram pelo menos o Nível 2 de proficiência em Leitura (média da OCDE: 77%). Esses estudantes conseguem, no mínimo, identificar a ideia principal em um texto de extensão moderada, encontrar informações baseadas em critérios explícitos, embora às vezes complexos, e refletir sobre o propósito e a forma dos textos quando explicitamente instruídos a fazê-lo.

 O que os estudantes sabem e conseguem fazer no domínio Matemática

No Brasil, cerca de 32% dos estudantes no Brasil atingiram pelo menos o Nível 2 em Matemática (média

da OCDE: 76%). Esses estudantes conseguem no mínimo interpretar e reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação (simples) pode ser representada matematicamente (ex.: a comparação da distância total entre duas rotas alternativas ou a conversão de preços em uma moeda diferente). A proporção de estudantes de 15 anos que atingiram os níveis mínimos de proficiência em Matemática (Nível 2 ou acima) variou amplamente – de 98% em Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang (China) a apenas 2% na Zâmbia, que participou da avaliação do Pisa para o Desenvolvimento em 2017. Em média, entre os países da OCDE, 76% dos estudantes atingiram pelo menos o Nível 2 de proficiência em Matemática.

 O que os estudantes sabem e conseguem fazer no domínio Ciências

Cerca de 45% dos estudantes no Brasil atingiram pelo menos o Nível 2 em Ciências (média da OCDE: 78%). Esses estudantes conseguem, no mínimo, identificar a explicação correta para fenômenos científicos conhecidos e podem usar esse conhecimento para identificar, em casos simples, se uma conclusão é válida com base nos dados fornecidos.

O desempenho médio em Matemática evoluiu no período entre 2003 e 2018, mas a maior parte desse progresso ocorreu nos ciclos iniciais. Depois de 2009, em Matemática, assim como em Leitura e Ciências, o desempenho médio pareceu flutuar em uma tendência linear.

A tendência inicial positiva (2000 a 2012) foi observada dentro de um período de rápida expansão do ensino médio. Entre 2003 e 2012, o Brasil ampliou em mais de 500.000 a população total de estudantes de 15 anos de idade elegíveis para participar do Pisa. A proporção de estudantes de 15 anos de idade cobertos pela amostra do Pisa aumentou de aproximadamente 55%, em 2003, para 70%, em 2012. É provável que essa expansão das oportunidades em educação tenha atenuado uma tendência subjacente ainda mais positiva no desempenho dos estudantes. De fato, uma simulação que pressupõe que os 25% dos estudantes de 15 anos de idade com pontuação mais alta eram elegíveis para realizar o teste em qualquer ano mostra uma tendência positiva nessa população, não apenas em Matemática (2003-2018), mas também em Ciências (2006-2018).

Quando comparamos nossos dados aos demais países vemos como estamos longe de atingir um nível de aproveitamento adequado, e, como esse desempenho acadêmico está ligado ao desenvolvimento do país no caminho de se tornar uma potência econômica, pois é através da conversão do potencial humano que vemos potencial de riqueza se constituindo na prática. Continuamos patinando, enquanto outros países deslancham de forma consistente em direção ao crescimento econômico e melhores condições de vida e distribuição de riquezas para suas populações.

Avaliamos os dados disponíveis nos países da OCDE e nota-se que os países mais ricos não estão necessariamente à frente nos resultados dos exames, verificamos que os países asiáticos, notadamente a China, domina os melhores resultados bem como outros países do continente como Coréia e Japão e isso ajuda a explicar uma visão mais alinhada com o desenvolvimento de longo prazo destas economias, sendo a educação um foco da estratégia de desenvolvimento destas nações.

Como os estudantes no Brasil se sentem sobre suas vidas e sobre o seu aprendizado?

Instados a responder o questionário do exame 65% dos estudantes brasileiros (média da OCDE: 67%) relataram que estão satisfeitos com as suas vidas (estudantes que marcaram entre 7 e 10 em uma escala de 10 pontos de satisfação com a vida).

Cerca de 90% dos estudantes no Brasil relataram se sentirem felizes às vezes ou sempre e aproximadamente 13% dos estudantes relataram se sentirem sempre tristes. Na maioria dos países e economias, os estudantes foram mais propensos a relatar sentimentos positivos quando declaram um forte senso de pertencimento à escola e uma maior cooperação entre os estudantes.

Os estudantes são mais propensos a expressar tristeza quando sofrem bullying frequentemente.

No Brasil, 77% dos estudantes concordaram ou concordaram totalmente que normalmente conseguem encontrar uma saída para situações difíceis (média da OCDE: 84%) e 55% concordaram ou concordaram totalmente que, quando falham, se preocupam com a opinião dos outros a seu respeito (média da OCDE: 56% dos estudantes). Em quase todos os sistemas educacionais, incluindo o do Brasil, meninas relataram ter mais medo de fracassar que os meninos e esse hiato de gênero foi consideravelmente maior entre os estudantes com melhor desempenho.

A maioria dos estudantes entre os países da OCDE mantêm uma mentalidade de crescimento (eles discordaram ou discordaram totalmente da afirmação: “Sua inteligência é algo que você não pode mudar muito”). No Brasil, 63% dos estudantes mantêm uma mentalidade de crescimento.

 Principais características do Pisa 2018

 Conteúdo

O estudo do Pisa 2018 teve como foco Leitura, sendo que Matemática, Ciências e Competência Global foram áreas de menor foco na avaliação; o Brasil não participou da avaliação de Competência Global. O Pisa 2018 também incluiu uma avaliação do Letramento Financeiro de pessoas jovens, oferecido opcionalmente aos países e economias. Os resultados para Leitura, Matemática e Ciências foram divulgados em 3 de dezembro de 2019 e os resultados de Competência Global e Letramento Financeiro em 2020.

 Estudantes

Cerca de 600.000 estudantes participaram da avaliação em 2018, representando aproximadamente 32 milhões de estudantes de 15 anos de idade nas escolas dos 79 países e economias participantes.

No Brasil, 10.691 estudantes, em 638 escolas, participaram da avaliação, representando 2.036.861 de estudantes de 15 anos de idade (65% da população total de 15 anos de idade).

Podemos observar que os alunos sentem menos os problemas de infra-estrutura ou das necessidades de diretores e professores e mostram-se abertos para assimilar a transferencia de conhecimento, apesar das diferenças econômicas e sociais que são abordadas no estudo completo publicado pela OCDE.

 

Gestão na Educação

Para entender melhor os resultados precisamos inferir sobre a destinação dos recursos atuais da educação no Brasil e para onde a maior parte dos recursos é destinada. A educação superior acabou se mostrando uma escolha equivocada. No início dos anos de 2010 apostamos na formação de mão de obra qualificada, mas o país não formou o contingente de profissionais que era esperado para suportar o desempenho econômico, que também não aconteceu.

Apostamos em resultados de curtíssimo prazo e os recursos foram de destinados a universidades federais, sistemas de financiamento estudantil universitário através do programa de financiamento estudantil (FIES) e de renúncias fiscais (PROUNI) que não produziram resultados e acabou deixando à margem um contingente cerca de 6 vezes maior de crianças e jovens da educação básica sem recursos para investimentos.

Esta reversão de investimentos teve uma mudança drástica a partir de 2019 com a troca de governo e o redirecionamento de recursos para a educação básica, mas ainda carregamos um custeio muito maior proporcionalmente na educação superior. Os dados do INEP referente ao ano de 2019 mostra que foram destinados à Educação Básica cerca de 58,3% do orçamento anual para atender 47,8 milhões de alunos (84,8%), enquanto a Educação Superior recebeu 41,7% dos recursos para atender 8,6 milhões de alunos (15,2%), o que demonstra que há uma desproporção gigantesca que reduz as chances de melhoria de resultados em exames nacionais e internacionais dos alunos da educação básica e representa uma ancora ao crescimento do país.

Sob todos os aspectos a educação básica pública é castigada. Os gastos per capta da educação básica no ano de 2019 na rede particular chegaram a ser 3,5 vezes maiores que na rede pública, porém, ambas ainda ficaram abaixo dos gastos efetivados no ensino superior.

Torna-se clara a necessidade de mudança da gestão dos recursos para privilegiar os investimentos que tem maior retorno, e estes indubitavelmente estão na educação básica. Investir na melhoria da infra-estrutura e em tecnologias de TIC para levar às escolas os conteúdos mais modernos, nos locais mais distantes, na qualificação dos professores e em melhores salários e condições de trabalho, na estrutura de gestão do orçamento com maior participação dos municípios, pois como vimos na gestão do PNI durante a  pandemia as ações concretas acontecem nas pontas e envolver e responsabilizar prefeitos nesta gestão da educação é fundamental, utilizando o know-how que temos da gestão do SUS que vimos que funciona e muito bem.

Assim, podemos buscar melhores resultados comparativos fazendo com que mudanças na gestão sejam implantadas imediatamente visando criar desafios possíveis para professores, coordenadores, diretores escolares e todos os profissionais do setor para que possamos reduzir o gap que temos atualmente em relação a outros países que conseguiram mudar suas realidades, em um passado não tão distante.

É necessária uma gestão que privilegie investimentos corretos e que atendam a maioria da população para que possam produzir uma difusão do conhecimento numa base maior de pessoas, e que isso seja capaz de dar acesso à educação de base, técnico-profissionalizante e superior e possa gerar riquezas para nossa sociedade e todo o país.

 

Ricardo de Jesus é mestrando em Administração de Empresas pela EAESP – FGV

Mestrado Profissional em Administração (MPA)

 

Bibliografia

The OECD – Programme for International Student Assessment (PISA)

Disponível em:  http://www.oecd.org/pisa/publications/pisa-2018-results.htm

Acesso em: 03 nov. 2021.

 

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Brasília, c2021.

Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/ideb

Acesso em: 03 nov. 2021.

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